Tolerância
A difícil convivência na Bento Gonçalves
Um dos principais pontos de encontro da cidade é também problema para a vizinhança
Jô Folha -
Os problemas de quem vive nas redondezas da esquina da avenida Bento Gonçalves com a rua Barão de Santa Tecla continuam. Considerados crônicos tanto por comerciantes como moradores da área e o Poder Público, são corriqueiras as reclamações sobre o barulho, o lixo e a desordem num dos pontos de encontro mais tradicionais de Pelotas. A perturbação de sossego prevê multa aos donos de estabelecimentos, como bares, pelo Código de Posturas de Pelotas.
À noite, som automotivo, barulho do escapamento de motos e da aglomeração de pessoas. Pela manhã, as consequências são centenas de garrafas, bitucas de cigarro e sacolas espalhadas pelo canteiro central e pelas calçadas. Por meio de relatos ouvidos no local pela reportagem, as cenas são corriqueiras nas quintas, sextas, aos sábados, domingos e em vésperas de feriado.
Na manhã de segunda-feira, duas garis limpavam a área. Conforme uma delas, a quadra é, sem dúvida, a mais suja da cidade. Tanto é que o local recebe limpeza também aos sábados e domingos pela manhã, para minimizar os efeitos da noite anterior. “Se a gente não limpar, fica perigoso até para o trânsito”, comentou uma delas.
Morador precisou passar a noite em hotel
Com 79 anos, Assis Rosa Gonçalves é síndico de um prédio nas proximidades da Avenida. Ele mora no local com a esposa há 40 anos. Recentemente, após se esgotarem as alternativas de dormir na casa de filhos e parentes, o casal precisou procurar um hotel para passar o sábado à noite. “De certa forma, acabamos sendo expulsos da nossa própria casa para ter o descanso”, desabafou.
Ligações para a polícia, conta, são comuns, assim como o assunto da perturbação do sossego. “Tu podes perguntar pra qualquer morador ou comerciante que vai ter reclamação. É assim todo final de semana”, disse. Outros moradores relatam que chamam a Brigada Militar, no entanto os problemas não são solucionados. “Vem uma viatura e eles baixam o som. Ela vai embora e eles aumentam novamente.”
Comércio sente problemas
Comerciante da avenida Bento Gonçalves, Dieison Fonseca sente as consequências na calçada de seu estabelecimento. Se antes eram comuns latas e garrafas de cerveja, hoje são tradicionais os chamados “kits”: garrafa de energético, garrafa de vodca e um saco de gelo. Ele conta que chega no local para trabalhar por volta das 7h30min e sempre se depara com sacolas e garrafas na porta do estabelecimento. Em alguns dias, o cheiro de urina fica insuportável. “Falta consciência entre as pessoas e educação. A gente está aqui faz 18 anos e parece que só piora”, opina.
Ação semelhante à da Gonçalves
Entre as responsabilidades da Secretaria Municipal de Gestão de Cidade e Mobilidade Urbana (SGCMU), uma delas é a fiscalização. Cabe aos técnicos da pasta, por exemplo, fiscalizar descumprimentos do Código de Posturas de Pelotas. Integrante do Gabinete de Gestão Integrada (GGI), que promove ações do Pacto Pelotas pela Paz, o secretário Jacques Reydams garante que há fiscalização, o que é questionado por moradores. Em 2019, o Ministério Público também ingressou no debate com a prefeitura e foram realizadas reuniões com comerciantes da área. Definiu-se, em conjunto, que serão adotadas medidas semelhantes àquelas tomadas pelo Poder Público na rua Gonçalves Chaves, no entorno da Universidade Católica de Pelotas (UCPel).
“Chegamos na mesma conclusão: não permitir a venda de bebida alcoólica para consumo fora do estabelecimento a partir das 23h”, informou Jacques. Ainda sem prazo para entrar em vigor, os trailers que vendem lanches também serão proibidos de comercializar bebidas alcoólicas a partir deste horário, adianta. Outra ação planejada é a proibição de estacionamento tanto na via como no canteiro central nesta área mais problemática.
O tema também está no radar da Brigada Militar (BM), de acordo com o comando local da corporação. O tenente-coronel André Marcio Facin informou que o tema tem sido tratado em reuniões integradas e há ações planejadas para o local. “Esperamos responsabilizar aqueles que estão cometendo infrações no local e assim minimizarmos os problemas”, declarou.
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